segunda-feira, 8 de outubro de 2012

TEMPOS QUE NÃO VOLTAM MAIS!

O tempo não comprou passagem de volta.


Ainda me lembro, nas horas de nostalgia dos contos e da minha vivência nos períodos de infância, que saudades, onde já tinha recordado a lareira com uma pedra no chão, e sobre ela a lenha abrasava a cozinha,!
Era eu uma criança, a  à poucos anos deixara-se de usar candeeiros a petróleo e a luz eléctrica em casa de algumas famílias já era uma realidade.
Para esses residentes de Novelas as candeias de azeite ou os candeeiros a petróleo, começariam a pertencer ao passado e possibilitou igualmente a mecanização em grandes quintas como a Quinta da Tulha ou a Quinta da Folha e começava a ouvir-se pela primeira vez a rádio.
Eu, de risca ao lado com um cabelo perfeito, jogava ao peão na rua, outras vezes ao espeto com os amigos, observando ora o padeiro, ora o peixeiro de porta em porta, que me serviam de referência horária na aldeia de Novelas.
Nesse tempo o acesso à cidade era pela estrada principal e os caminhos eram sinuosos, sendo para isso semanalmente enviado um robusto cavalo, pelo comerciante, que transportava a farinha, proveniente dos moinhos junto à ponte do rio Sousa.
Andava-se muito a pé, a estrada principal não era alcatroada e os caminhos todos poeirentos no verão e lamacentos no Inverno, serviam o acesso ao caminho-de-ferro e a estação de Penafiel em Novelas, era uma realidade, como excelente meio de transporte.
A linha do Douro com este melhoramento veio proporcionar como é óbvio um substancial desenvolvimento à freguesia de Novelas e uma melhoria nas condições de vida daqueles que podiam trabalhar.
As primeiras e verdadeiras lojas a servirem o público surgiam posteriormente em Arcozelo “ O Senhor Ângelo” nos Penedos “A Loja do Oliveira” e na Ponte a “Loja do Neca e do Alfredo”; o talho era na actual Adega Regional e o barbeiro mesmo ao lado; e ainda a drogaria a par com a padaria.
 Tornava-se possível, em casa como forma de descanso depois do almoço, as mulheres reunirem-se em frente da telefonia para ouvirem o romance “ Simplesmente Maria”, ou os homens ouvir a informação, tal como o relato dos jogos de futebol, tudo isto já antes da vinda da Televisão.
As tabernas foram-se transformando em cafés (onde café não havia) ficariam a ser tabernas mais civilizadas, pelo menos com cadeiras e mesas, em vês dos tradicionais bancos quadrados de madeira.
Depois apareceu em mil novecentos e setenta e dois, a Associação Recreativa Novelense e todas as noites eram casa cheia, principalmente para a noite de teatro e as emissões de televisão já eram uma realidade e começavam a aparecer pela primeira vez  nas habitações.
As bebidas mais populares da altura para os que não bebiam vinho, era uma mistura de gasosa com cerveja.
Os dias eram risonhos... e foi numa manhã risonha embora orvalhada, mas igual a todas essas manhãs mas com sol quentinho, quarenta anos depois adormeci sobressaltado e senti os cobertores escorregarem por entre os dedos dos pés, ainda me lembro de me proteger segurando-os, mas com o tempo deixei-me levar pelo sono e adormeci.
 Estranho… sonhei outra vez. Lembrei-me da primeira vez que o meu pai me tinha dado a primeira moeda de vinte e cinco tostões, o primeiro sumo “a laranjina”, e a primeira reprimenda, talvez daí a razão principal do cenário ainda continuar vivo na minha memória e o motivo por que o descrevo.
Recordei… ao sair para o campo, ficava para traz e junto á Quinta da Folha começava a observar a natureza, que bonitas as borboletas quando pousavam nas flores e as abelhas que tentava apanhar… ; então as avelãzeiras ao meu lado direito, precedendo á capela da Senhora do Loreto na casa da Quinta e atrás de nós o sol que há pouco tinha nascido.
 Um chão de terra cultivado na Arribalta que por sinal tinha sido do meu avô paterno, de onde mais tarde retornava com o meu pai e família para o almoço.
Como eu gostaria de saber transmitir numa tela, estas imagens de infância que ainda guardo no meu pensamento, o ouvir dos diferentes cantos dos pássaros, que perguntava ao meu pai e ele me dizia… é o rouxinol, é o pintassilgo, ali é o casebre da Lagoa, isto ao longo das terras de cultivo onde mais abaixo se avistava uma represa onde a agua límpida corria.
A seguir o canto já era outro, o cuco, a poupa e o gaio, este último lembro-me ter visto alguns… não talvez na minha primeira vivência, pois a minha memória ficou mais acentuada com aquela imagem do contacto com o espaço aberto e para mim, grandioso da natureza.
Á tardinha lá ia ao banho ao rio Sousa, com uma bóia gigante oferecida pela garagem do Albano Miguel em Penafiel, depois ainda o sol se preparava para esconder, e eu já me dirigia para o “ Clube” passando pelo café, via as andorinhas que faziam ninho nas varandas, nos alpendre e beirais a voltarem ao seu ninho.
Era um tempo de se apreciar a paisagem, aquele envolvimento com a natureza, naquele ambiente rural, naquela idade do desabrochar para a vida… visto por um adolescente.
Mas o tempo foi passando, fui crescendo e amadurecendo e mais tarde o tabaco era um erro imperdoável, escondido para que não visse meti o cigarro por entre os dedos ao bolso e enquanto conversava incendiou-me o forro das calças. Uma verdadeira aventura para um jovem já com dezassete anos de idade ao ser surpreendido pelo pai.
Enquanto caminhava ouvia o chilrear dos passarinhos naquela tarde, que (hoje sei) era de Primavera, ainda me lembro… do caminho marcado pelos fundos rodados dos carros de bois e eu gostava tanto daquela paisagem e contacto com a natureza, que não sei porquê, as minhas retinas de criança, fixaram e gravaram para sempre na minha memória, aquele cenário para o resto da minha vida.
Agora tenho lembranças e saudades! 

Novelas 8 de Outubro de 2012.


 



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