domingo, 5 de fevereiro de 2012

TENENTE CORONEL MÁRIO BRANDÃO

HOMENAGEM A UM HOMEM DE ABRIL.
Faleceu em Penafiel no passado dia 3 de Fevereiro de 20012, com 74 anos de idade o Tenente-coronel Mário Alfredo Brandão Rodrigues dos Santos.
Uma das maiores dores, é a separação de pessoas de valor de quem naturalmente admiramos, e é humano sofrer com essa morte física quando nos tiram alguém com dedicação à vida por uma causa justa, que só seremos capazes de sentir e entender, quando estamos presos!
A LIBERDADE.
A saudade fará, no entanto com que este homem não seja facilmente esquecido, entreviu e zelou por um regime livre e democrático que à 37 anos atrás, o regime de Salazar tinha imposto com a força da opressão e da ditadura.
Foi de certeza um HOMEM DE ABRIL.
Recordo uma recente entrevista ao BIBONORTE, e o carinho desta figura que junto a uma tabacaria na cidade de Penafiel, com a escrita da sua própria mão, gizada a cor violeta, entregava a sua correspondência já predestinada, enquanto o olhava com admiração.
Em 2011 com 73 anos de idade, o Tenente-coronel Mário Brandão, recordava a revolução de 1974 vivida no quartel-general de Coimbra como um período em que se sentiu à “rasca”.
Contava que o medo era indisfarçável e a 24 de Abril, enquanto conversava com a esposa, médica de profissão, esta acabou por perceber que o receio tinha tomado conta do militar, natural de Penafiel…
Era a noite de 24 de Abril e aguardou ansioso por novidades, mas só há uma da manhã, ouviu o primeiro sinal e dirigiu-se para o quartel-general…
As já famosas reuniões secretas contavam com a presença de Mário Brandão, que revelava alguns pormenores de como, onde e quando estas aconteceram.
Dizia que a primeira tinha sido a 9 de Setembro de 1973, num monte alentejano e que o ponto de encontro tinha sido o templo de Diana em Évora…
Os militares tinham perdido o medo e acabavam por ser pouco discretos nesses encontros, 110 homens à civil mas que pareciam fardados, dados os cabelos serem demasiado curtos e estarem todos de fato e gravata, reuniram…
Depois, alguns meses mais tarde aconteceu mais um encontro de militares, desta feita em Óbidos, onde se decidiu que era necessário criar uma junta de salvação nacional… e no ano seguinte reuniram-se novamente, em Cascais, onde a euforia acabou por chamar a atenção da PIDE.
Mas nessa altura já estavam envolvidos homens dos vários quadrantes do exército, pára-quedistas, homens da marinha, e Majores que começaram a participar em reuniões na área de Cascais para redigirem e assinaram o documento que viria a ser o programa do MFA.
Houve muita discussão, viu as coisas a ficarem negras porque tinha falado com os paraquedistas e tinha sido o Kaúlsa de Arriaga, que os tinha tentado aliciar a fazer o golpe, por isso estavam sempre de pé atrás.
Eram 114 assinaturas, e a do Coronel Mário Brandão era a terceira ou quarta, dizia que tinha assinado com o Santos Coelho e algo que não era costume, mas acabou por faze-lo, tinha assinado o nome completo o que demostrava ser o seu, apesar de assumir que tinha assinado por medo e que até Adolfo Correia da Rocha “Miguel Torga” a determinada altura tinha deixado de assinar manifestos contra o governo, alegando que estava farto de dar autógrafos para a pide.
O Tenente-coronel acreditava que hoje não seria possível levar a cabo outra revolução como a de 1974, mas garantiu que faria tudo como naquela época.
Explicava ter duas coisas na vida de que se orgulhava muito, A SUA FAMÍLIA e O 25 DE ABRIL com a consciência que fizeram uma coisa única no mundo.
Considerando a antiguidade no posto de tenente-coronel, SGE 51705411, Mário Alfredo Brandão Rodrigues dos Santos desde 1 de Julho de 1983, foi desligado da efectividade do serviço e passou à situação de reserva por limite de idade, 9 de Setembro de 1996, deixando uma história de vida.
E a história era mais do que evidente quando aconteceu o que já se esperava na noite de 24 de Abril de 74, com a impossibilidade de controlar uma revolta do povo que se sentia oprimido arrastou a uma revolução.
Será que o Tenente-coronel quando disse que o fenómeno da revolução “ainda hoje está a ser estudada por universidades de todo o mundo” queria dizer que o futuro ainda não nasceu, e que o que temos que considerar é apenas o presente?
Penso que esse dia fantástico, marcou a página onde a liberdade não teve nem tem culpas, apenas porque a responsabilidade não se interligou tornando-se quase impossível hoje ao ser humano, ser responsável e completamente livre.
Descanse em Paz. 


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