segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

COMO SERIA BOM!



 O MUNDO POVOADO APENAS POR:
 ZÉS BELEZA!

Em 06 de Abril de 1973, Prata de Melo escrevia no Jornal Notícias de Penafiel “Como seria bom o mundo, se o povoassem apenas Zés Beleza!”
Em 2007 desconhecendo este achado que hoje anexamos, fomos capazes realmente de reproduzir esta cópia fiel e muito bem esclarecedora do pouco que conhecemos do Zé, com uma longa metragem intitulada, RAIA PICOTA - vidas cruzadas.


E Prata de Melo, tinha escrito em 1973…
Novelas 10 de Fevereiro de 2012;
In Raia Picota Vidas Cruzadas

O Zé Beleza.
«Chamavam-lhe Zé Beleza, porque nunca se lembraram de chamar-lhe, por exemplo Zé Bogalho, porque ninguém chama Maria Cebola ou outra coisa qualquer à senhora Maria Beleza. Ou então porque não existe uma palavra chamada hereditariedade. 
É isso uma alcunha hereditária.
E não lhe acenta mal o apodo, que o diga quem conhece a sua forma de viver…. é o que se chama uma vida em beleza.
Saúde, dinheiro e amor!
Sim o Zé Beleza é sadio, calça os pés nos sapatos da nudez, de solas rijas de pele humana, meias de poeira e demais detritos do caminho sujo, e vá a neve ou chuva pregar-lhe uma partida de constipação! 
Os Xaropes nicotina-bagaço anularão qualquer tentativa dessas.
Dinheiro tem-no, produto do seu trabalho quando lhe dá para trabalhar, trabalho no amanho do solo que dá pão e flores, na transformação em cavacos dum tronco de árvore derrubado para o braseiro de Inverno.
Trabalho explorado por eventuais patrões.
Dinheiro de esmolas hipócritas na maioria, mas que o Zé Beleza aceita, já que no dizer dele, medalhas destas aceitam-se sempre.
Amor, sim, o Zé Beleza também ama. Eu conheço-lhe o amor. A paz, abomina e evita o conflito.
Como seria bom para o mundo, se o povoassem apenas Zés Beleza.!
Vive sem complexos da sociedade, sem protocolos, sem hipocrisia, sem qualquer problema.
É Livre!
Atrevo-me a chamar-lhe hipphie, e não menosprezarei os princípios verdadeiros, que não os usarão mais que o Zé Beleza.
Há quem o condene, quem ria com a cena triste do filho que lhe arremessam pedras, ou que insultam no caminho pacato que o leva. 
Acaso esses viverão a vida!
Será realmente vida este período de transformação na terra, entre o nascimento e a morte, passado na confusão quotidiana, na poluição conjunta de almas e ambiente, na máscara da civilização e com traição, ódio especulação, hipocrisia, crime?
Ou será que a vida é o ar que o Zé Beleza respira!
Ele, não atraiçoa pinheiros que lhe dão a sombra amiga. Tem o sol que o aquece sem esperar recompensa, e as estrelas que lhe velam o sono nas noites em que as toma para tecto.

Tem a brisa que não lhe nega ao aromático o silvestre e a felicidade não o abandona, a sua felicidade.
Porque o Zé Beleza é feliz… à sua maneira é feliz… e morrerá como os outros, como aqueles que têm tudo, tudo menos a saúde a liberdade e a felicidade do Zé Beleza.
E talvez a terra lhe pese menos, porque ele não terá o luxo do granito, ou do mármore a cobri-lhe a tumba, nem a cruz de ferro lúgubre a endireitar-lhe o leito da paz, nem epitáfio inútil de saudade. E de que lhe serviria ao fim e ao cabo?!
Quantos te invejarão Zé Beleza, na cobardia de te condenarem?»
  In Jornal de Notícias de Penafiel - PRATA DE MELO - 06 de Abril de 1973

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